A pouco mais de seis meses para a Lei de Resíduos Sólidos ser empregada no Brasil, empresas do varejo e da indústria continuam desarticuladas e só algumas fizeram medidas pontuais para o descarte correto dos resíduos produzidos. Ao que tudo indica, elas esperam definições como a posição do governo em relação aos produtos oriundos de importação direta, além da possível desoneração da logística reversa. Segundo Samyra Crespo, secretária de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, o governo está disposto a ouvir o que os empresários têm a dizer, para que as medidas possam ser tomadas em conjunto. “Alguns empresários do varejo têm mostrado seus projetos e isso ajudo o governo a traçar medidas de auxílio a adequação dessa nova realidade”, disse ela, em encontro com executivos promovido pela Associação Brasileira da Indústria de Equipamentos e Serviços para o Varejo (Abiesv), esta semana. As medidas mencionadas pela secretária referem-se em especial à possível desoneração das operações de logística reversa, fato que pode ser anunciado pelo governo ainda neste mês de maio. “O governo analisa todas as possibilidades. Pode ser que até o dia 15 de maio tenhamos algum parecer”, afirmou ela. Para José Goldemberg, presidente do conselho de sustentabilidade da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), setores como o de celulares, pneus, entre outros, estão no caminho certo e não precisam da desoneração pois com a reciclagem eles também faturam. O grande problema está no setor farmacêutico. “O descarte de medicamentos é feito quando ele

[o medicamento] está vencido e ninguém consegue reaproveitar esse material. O segmento que precisará de alguma desoneração, em primeiro momento, é esse”, explicou o especialista. Ao que acrescentou: “Para o empresário ter um ponto de descarte há o custo de R$ 300. Assim, as redes maiores conseguem arcar, as menores não”. Os produtos vindos de outros países também estão na pauta dos executivos brasileiros. Na opinião de Márcio Quintino, diretor de sustentabilidade da Philips do Brasil, o correto seria o governo ter regras claras sobre a responsabilidade de cada setor, para que todas se enquadrem na Lei de Resíduos Sólidos. “Como atuamos em diversos segmentos – lâmpadas, eletroeletrônicos, eletrodomésticos, pilhas, baterias e equipamentos hospitalares – temos que nos adequar de várias formas. Mas, nos nossos pontos de coleta de pilhas, por exemplo, recebemos 30% de produtos que não são nossos, muitas vezes, são fruto de pirataria”, declarou o executivo. A empresa, além dos pontos de coleta, afirma ter se preocupado em desenvolver lâmpadas de menor consumo, mais duráveis e que agridem menos ao meio ambiente. “Nós oferecemos aos varejistas soluções mais econômicas, que auxiliam na diminuição dos custos”, disse ele. O executivo ressaltou também que os altos custos, por vezes, atrapalham os planos dos interessados em se enquadrar as novas regras. “Com o lixo coletado é possível fazer novos negócios. Cerca de 30% do que é recolhido tem retorno de vendas, mas os outros 70% são custos que o empresário e o consumidor assumem”, declarou. Goldemberg afirmou que nesse caso não há muito que se fazer. “Os varejistas terão de recolher o produto importado e criar centros de reciclagem”, disse. Uma das iniciativas já acertadas para que os empresários sofram menos com a inserção dos programas são as linhas de crédito oferecidas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e outros bancos públicos. “Existem R$ 200 milhões disponíveis no BNDES para quem quiser investir em iniciativas que promovam sustentabilidade de sua operação”, argumentou Samyra Crespo. Ela também fez questão de ressaltar a efetividade das iniciativas, uma vez que a Descarte Certo, já tem uma planta de coleta seletiva, e projeta mais cinco. No caso dos varejistas, uma das maiores discussões que gerou impasses foi a questão da utilização das sacolas plásticas. Segundo Samyra, não existe logística reversa para o material, mas as entidades ligas ao setor – Associação Brasileira de Supermercados (Abras) e Associação Paulista de Supermercados (Apas) – firmaram um acordo de cooperação para a redução do uso. “As entidades afirmaram que vão reduzir em 40% o uso das sacolas plásticas até 2015”. Fonte: DCI